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Há uns dez anos, na época em que meus filhos eram pequenos, eu sempre voltava do trabalho com uma sacolinha na mão. Nele estavam lápis ou canetas, pãezinhos ou pares de meias, biscoitos para o lanche, alface para a salada do jantar e um número enorme de coisas que sempre estavam faltando. Um certo dia, o porteiro do meu prédio disse: "E aí, dona Rita, sempre chegando com uma sacolinha diferente todos os dias".

Dei uma risadinha e segui em direção ao elevador, pensado nas palavras do seu José. Afinal , por que todos os dias eu forçosamente tinha que trazer alguma coisa para casa? Será que eu não poderia racionalizar os gastos? Fazer uma lista semanal de coisas que precisavam ser compradas? A frase daquele homem ainda ronda os meus pensamentos quando chego em casa com as minhas sacolinhas de supermercado. Claro, que a condição de ter filhos pequenos, em idade escolar, favorecia a necessidade de comprar as coisas mais malucas, tanto que muitas vezes tive que sair depois do jantar para procurar papel de seda ou espelhado, mas quando as necessidades viram regras é preciso parar e pensar.

Um artigo de Luiz Felipe Pondé, na Folha de São Paulo da última segunda-feira, fez uma referência muito interessante sobre o "eu" que nos torna refém do desejo de "comprar, adquirir, sentir-se tendo vantagem em tudo", Segundo Pondé, o "eu" sente "frisson" num outlet baratinho em Miami.

E eu vou um pouquinho mais além, o "eu" sente alegria, contentamento e um certo torpor ao se perder entre as lojas de um shopping classe AA ou nas inúmeras portinhas da rua 25 de Março, em São Paulo.

Parar com esse processo, que é totalmente criado por espertos marqueteiros que vendem felicidade em forma de sapatos, bolsas, maquiagens, entre outras coisas, só pode ser detido com uma boa reflexão. A tal pergunta "preciso realmente deste objeto" é fundamental quando o processo de compra desenfreada está instalado. Mas é verdade também que nadar contra a maré nem sempre é possível.

Acredito firmemente que sair para comprar qualquer coisa, desde objetos até alimentos, faz parte da rotina das pessoas que vivem nas grandes metrópoles. Ao dar um passeio em São Paulo é quase impossível não parar para tomar um café ou dar uma olhadinha nas lojas, livrarias ou até nos objetos oferecidos pelos ambulantes que se espalham pela cidade.

Mas é aí que vem um certo compromisso com a satisfação pessoal desvinculada do ter. É possível sim ser feliz sem comprar um único e mísero objeto e sentir que a vida pode ser diferente da filosofia inglesa, citada por Pondé em seu artigo. Para os bretões, existe a expressão "wants" para se referir as nossas necessidades que devem ser satisfeitas. Pondé acredita que o "eu" é um poço sem fundo de "wants". Eu penso que esse "wants", que vem embalado para presente, é muito contemporâneo e pode ser transformado. Basta um certo esforço e muita, muita reflexão.



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