Inveja, para que te quero?

Detesto sentir inveja, mas é inevitável. Um carro cheirando a novo, um sapato maravilhoso ou uma mulher magra acorda

em mim o monstrinho da inveja. Neste momento, quase sem querer, começo a questionar as minhas opções na vida. Afinal, por que eu escolhi o jornalismo, aos 44 minutos do segundo tempo, já que eu passei um bom tempo me matando para entrar em administração na Fundação Getúlio Vargas? Ou então, por que eu não aguentei aquele chefe chato que estava associado a um ótimo salário? E por que larguei aquele emprego que todos achavam que era um “sonho” de estabilidade e benefícios? E mais ainda, como pude escolher sempre, em primeiro lugar, a minha família acima de qualquer ambição material ou profissional?

Depois de um bocado de “mimimis”, sempre acabo chegando a uma verdade absoluta: o meu caminho é, e sempre será, regido por minhas buscas pessoais. Quero, a cada olhar sobre a minha vida, encontrar pessoas que amo, dias cheios de emoções verdadeiras e objetos que tragam lembranças de momentos especiais. O que valorizo, com certeza, não pode ser comprado em lugar nenhum.

Mas toda essa filosofia de vida não diminui os meus ataques eventuais de inveja e é sobre eles que quero escrever. Clássica e insana, a inveja tem levado muita gente a esvaziar a carteira para sentir que tem os mesmos objetos que seu vizinho, parente ou amigo. O único remédio poderoso contra o surto de “desejo da coisa alheia” é uma parada estratégica para reflexão.

A inveja, como todo sentimento primitivo, traz em si uma força, um impulso poderoso que pode se transformar em algo positivo em nossas vidas. Muitas vezes, comecei uma dieta empurrada pela visão de uma amiga magra. Ou iniciei um curso que transformaram para melhor meus colegas de profissão ou, ainda, busquei em mim disponibilidades adormecidas que acabaram se transformando em oportunidades de trabalho, beleza ou alegria.

Mas, claro, não é nada fácil. Quando a inveja chega, ela nos atira no chão e massacra (de leve ou intensamente) a nossa autoestima. Mas, lembre-se de duas coisas, o sentimento é passageiro e pode ser deliciosamente transformador, e só depende de você.