A comparação do fim de semana de um playboy e o meu fim de semana de pobretão
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A comparação do fim de semana de um playboy e o meu fim de semana de pobretão


 

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Quando chega o final do expediente de sexta feira, dia da semana com um clima diferente, gostoso e cheirando a sexo e felicidade em todo o planeta terra, começa uma verdadeira guerra de classes e poderes financeiros.

É o fim de semana que separa os pobretões dos playboys, ambas as classes em eterna guerra por um lugar ao sol e nos corações femininos.

No meu trabalho eu já observo que o número de ligações durante o dia aumenta entre os playboys solteiros ricos e chefes. Os primeiros estão combinando com a galera ou viagens de final de semana para RJ, Goiás, Florianópolis ou Salvador rápidas ou, o mais comum, baladas e shows loucos que vão bombar. Os segundos combinam com as esposas gostosinhas interesseiras jantares e restaurantes especiais.

O fim de semana do playboy rico de via boa

Os playboys solteiros, os algozes de nós pobretões e eternos rivais, começam a sexta por volta das 18:30 da noite a corrida para a academia para malhar o quanto antes em uma rotina de exercícios mais leve porém que deixe os braços e peitos especialmente mais duros e grandes (“pumped” como se diz em inglês), para impressionar as patricinhas loiras gostosas.

Nosso playboy malha forte, toma seu whey protein (suplemento de leite para ficar fortão e inchado com músculos), coloca sua camisa da Calvin Klein em forma de “V” para mostrar o peito depilado e os braços inchados e parte para a vila madalena, bairro das baladas sinistras de São Paulo com seus amigos a bordo do seu tradicional carro da Hyundai I30, Audi A3 novo ou ainda Focus Branco novo para conquistar alguma foda noturna e abrir a comissão de frente de sexta feira em grande estilo.

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No bar nosso playboy héroi busca já negociar com seus amigos o whisky da noite com enérgetico, coloca 2 na mesa e inicia-se o jogo de paqueras com as loiras lindas da noite de forma ostensiva e emocionante. Ele sabe que ele é visado e tem confiança em si mesmo.

No sábado se ele não comeu alguma patricinha ele parte para dormir de manhã fortemente, ao chegar de manhã sai com a famíllia rica para um restaurante fodão de São Paulo (ou com amigos) comentar a noite passada ou curtir uma cerveja Bohemia de leve. De tarde faz um ciclismo com sua bike cara, fica no facebook ou curte uma praia caso viaje com seus amigos. Às 19:00 começa a nova preparação para a balada com seus amigos e no sábado a balada é mais forte e ainda mais cara porque é onde a maioria do sexo casual no Brasil rola. Nada muda de sexta, é pura emoção, Johnny Walker na mesa, curtição, camisa apertada de marca e muita grana no Hyundai I30. Motel após com a loira patricinha. Domingo é dia de família, ressaca e futebol nos estádios paulistas para o time que ele torce. De noite ele nem sente a depressão pois a vida é boa e bela, não há preocupação em perder o emprego, de fato a excitação até rola para contar aos amigos de trabalho as aventuras do final de semana.

O fim de semana do pobretão de vida ruim

Sexta feira chega e eu abro meu arquivo excel no meu trabalho lá pelas 15:00. Observo friamente meus gastos do mês para ver o que tenho para gastar no final de semana. Ok, tenho 30 reais. Um olhar triste por 10 segundos na tela ocorre. Tomo um tapa nas costas do meu colega de trabalho playboy e acordo disfarçando. Dou um sorriso amarelo e penso “Vai ser cachaça direto, 2 cervejas Brahma no bar do meu amigo e 2 cachorros quentes, um pra mim e pra mãe e pai este final de semana”

Chego em casa às 19:00 ou 19:30. Observo minhas 3 irmãs sempre no desespero tradicional deste dia. Sou o mais velho. A segunda mais velha agoniada porque quer sair mas precisa de carona e baladas ladys free. A do meio tentando ser carregada com a mais velha. A mais nova no tiroteio não pode sair mas sente o clima de todos os irmãos ruim e tenta consolar a todos e fica pior ainda.

Falo para minha Mama que irei no bar do meu amigo enxer a cara. Ela humildemente fala “não beba muito filho e volte cedo”. Ela já sabe que sou cachaceiro perdedor. Vou pro quarto, abro meu armário lixo com quase nenhuma roupa decente para sair e pego uma das 3 de sempre. Tomo banho, coloco meu perfume de marca que economizo faz anos e coloco minha roupa legal. Vou num bar chulé mas gosto de me vestir como um homem decente.

1344084212391Minha irmã segunda mais velha olha pra mim e diz “vai sair pra beber é?” com tom sarcástico. Falo “Alguma problema gorda nojenta” e ela já se retrai e fica triste. Ela fala isso pra receber atenção. A irmã do meio diz tchau com um sorriso. E a mais nova, a que mais gosta de mim e que tem forte ligação por mim sai correndo e diz "Posso ir com você pobretãão beber todas?”. Ela fala isso pois me vê falando isso direto. A abraço e digo “quando tiver 18 anos”, e ela diz pra eu me cuidar e que vai sentir saudades e quando farei os deveres juntos. Digo que faremos e ela vai tirar 10. Ela ri um monte e corre pra mãe falar isso.

No bar do meu amigo encontro a galera e é sempre a mesma coisa. Nenhuma mulher. Melancolia. Até certa tristeza. Sei que é sempre assim no começo. Sento na mesa, peço uma caninha e uma cerveja. A cana é para acelerar a bebunzice e esquecer da vida horrível solitária de pobre e a cerveja pra tirar o gosto. É a tática de muitos dos mais velhos e eu, o mais jovem do bar já peguei. Chegam mais amigos e sentam na mesa. Começa a bebida a bater na cabeça e as discussões começam e a gritaria também:

- Aí filha da puta, jogador X do time Y vai destruir esse final de semana, tá fudido, vamo apostar aí?

- Ih olha lá mano, que otário, cadê o timinho cadê? Viado.

- Aí eu vi ali na marginal um motoqueiro se fodeu todo caindo passou por baixo do carro minha nossa.

- Porra sério conta aí?

- Ae Marquinho, o pobretão tá falando merda aqui, hahaha!

- Pobretão só fala merda, é um filha da puta

Todos riem e assim as conversas vão. Conversas ignorantes que se baseiam em futebol e gozações de homem basicamente. Quando o assunto passa para exército, política e naves espaciais as coisas viram uma putaria de ignorâncias sísmicas nunca antes vistas. Começo a gritar porque todo mundo só fala merda e vira uma brigaçada. Eu me divirto demais pois estou bêbado.

Volto pra casa muito mal, obviamente sem pegar ninguém e mais burro.

No sábado é terrível a ressaca e passo o dia passando mal porém se me recupero rápido, meu sábado consiste em abrir a geladeira escondido, pegar minha Vodka barata, minha garrafa de Coca, fecho a cortina, ligo o computador, coloco clipes musicais e músicas românticas da Roxette e passo o dia pensando na minha vida horrível vendo histórias de amor, mulheres lindas e imaginando uma vida melhor. Isso mesmo. O dia inteiro. Minha irmã mais nova às vezes entra, senta no meu colo, me abraça, vê clipes comigo, faz deveres e se vai. A gente se diverte porque eu faço merdas de propósito nos deveres colocando músicas sertanejas ou Star Wars e ela tira 10. De noite eu repito o que fiz na sexta se aguento. Domingo, eu compro um cachorro quente para mãe e pai e comemos em silêncio. O papo com meu pai no final de semana é o seguinte:

- Pai viu o jogo?

- Vi.

- Ganhamos! Que golaço do Y você viu?

- Golão, golão!

- Ei viu lá o acidente na marginal?

- Uhum que merda.

- Hm ok.

E domingo às 18:00 a depressão bate e muitas vezes choro. Acho que 30% dos domingos eu solto alguma lágrima devido o trabalho. Leio meu blog e vejo todo o ódio por ser pobre mas sinto e localizo os guerreiros pobretões que se identificam e isso me faz sentir muito melhor.

O programa da Globo Fantástico filha da puta termina após eu evitar a música do Faustão ao gritar muito com minha irmã mais velha pra não assistir aquilo quase batendo nela. Minha mãe grita comigo. Eu chuto minha cama ainda bêbado. Deito na cama pra dormir cedo. Minha irmã mais nova entra no quarto e me abraça.

O dia de um pobre de merda terminou. 50 anos de minha vida vivendo isso? Não. Não seu canalha.

Eu vou ser rico e sair desse inferno pois o pobretão way of life triunfará no final de tudo. Força pobretões. Força.




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