Um dia de um pobretão no bar
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Um dia de um pobretão no bar


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Sábado, dia de ir pro bar do meu amigo, onde pobretões se encontram para afogar mágoas e se divertirem como podem diante de sua vida de merda, sem esperança na fútil luta do dia a dia que resultará em nada além da velhice e morte.

O COMEÇO

Acordo 10 horas da manhã, banho, coloco roupa tosca, café da manhã reforçado e vou ao bar. De manhã é mais vazio e cumprimento quem estiver lá, dou alô e peço para o atendente camarada me dar um copinho de cachaça. Observe a vista na rua. Pego outro copinho. Cachaça bate rápido e dá fome. Converso com camaradas que estiverem lá. De manhã é lento. Volto pra casa pra almoçar.

Almoço como um dragão. Falo com mãe e pai merdas banais. Vejo o Globo Esporte. Tiro um cochilo de 30 minutos ou entro num site pornô devido o álcool dar tesão. Entro no meu blog. Haterismo, críticas, raiva, calúnias, mentiras, ataques. É, até no meu próprio lugar que criei como refúgio sou um odiado. Legal. Foda-se, vou pro bar, playboys ingratos de merda. Olho pra rua da minha janela e penso “bem, mais um dia de bebedeiras pra esquecer essa vida de bosta enquanto playboys estão se divertindo e se preparando pra comer todas hoje à noite…”. Legal.

O ESQUENTA

Chego lá e já tem mais gente. Cumprimento, peço minha cervejinha. Recebo e saio cumprimentando a galera. Começo a tomar e falar banalidades com meus amigos mais chegados. Assuntos? Jogo do bicho, merdas que rolaram de acidentes, assassinatos, tretas do bar na noite anterior, futebol. Ás vezes está passando algum programa na televisão e observamos como um filme. Dia desses estava passando acho que aquele filme fudido, acho que era loucademia de polícia em algum canal a cabo. As risadas eram enormes e os comentários de bêbado também óbvio como “esse ator é um dos melhores da história”, “esse cara aí é ótimo, olha a habilidade”.

O ritmo é meio lerdo até umas 18 horas quando a cerveja já bate e a galera já fica doida. O meu amigo dono do bar então coloca músicas. Ele começa a tocar músicas em inglês das antigas, de rock and roll, clássicos do metal, algum sertanejo, pagode e rock nacional. Começam alguns a dançar. Alguns ensaiam passos de hip hop. Alguns velhos ficam dançando com os mais novos em cenas ridículas e engraçadas.. Eu só fico agitando.

Os velhos começam a dar em cima de alguma perdida que precisa ir no banheiro dentro do bar o pessoal que tá na rua. Chegam até a serem ousadas tirando pra dançar. Mais culhão que eu, lhe dou o mérito lobões. O pessoal só observa e ri demais.

DURANTE O JOGO DE FUTEBOL DOS CLUBES PAULISTAS

18:30 e ás 21:50 começa o jogo do brasileirão. Pessoal se arruma nas cadeiras. Jogos duplos, triplos do Corinthians, Santos, Palmeiras e São Paulo e cada torcida fica em uma televisão. A da Portuguesa não passa mas tem vez que tem uns perdidos inclusive da Leões da Fabulosa, organizada da Lusa. Gritos de gol, gozações, alguns se irritam mas tudo na paz. Obviamente que eu fico nervoso também. Eu me agito muito porém não tiro sarro. Mas sou o líder do bar da minha torcida. GOOOOOLLLLLLLLL, GOOOOOLLLL, Chupa filha da puta, chupa secador, vai tomar no cu, se fuder, aqui é PORRRRCOOOOO. Ou Aqui é bando de loucoooooo. Aqui é peixe, chupaaa, Aqui é tricooollooorrrrr. E assim os gols saem e o nervosismo toma conta com os finais de jogo chegando. A torcida do Santos é menor e mais discreta mas adoram tirar com todos os 3 times. A do São Paulo cresceu muito e são torcedores comedidos porém na hora do gol são chatos. Os do Palmeiras e Corinthians são os mais fanáticos e disputam em gozação e nervosismo. A do Palmeiras é a mais unida e vibrante de todas já a do Corinthians tem muito nerd branquelo de óculos magrelo misturada nos negões que só vai pra fazer parte de algo ou se sentirem protegidos pelo pessoal da favela. É até bizarro e lamentável de ver. Deviam voltar pros videogames e jogos de RPG. Buteco de pobre não é lugar pra esses merdas mas eles se acham “cult” fazendo isso. Odeio eles. Tenho mais respeito pelos negões “bando de louco” do que esses nerds hippies corinthianos buscando proteção.

BRIGAS e TENSÃO EM BARES DE POBRES

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O agito no jogo é violento e é preciso ter controle. Se beber demais e começar a se irritar e desrespeitar apanha, não importa quem seja, por mais moral que tenha. Eu mesmo já quase apanhei de toda a torcida do São Paulo em um dia que perdi o controle. Tiveram que intervir. Eu falava “bambi pau no cu, chupador de cu”. “Ih olha aí hein, olha o beijinho rolando”. Eu fazia isso toda hora e em um momento 3 juntaram em cima de mim e começaram as encaradas, toques na cabeça, dedo na cara. Ninguém veio em meu socorro pra eu aprender. Tomei calor, a bebida passou na hora e vi a merda que estava fazendo e o quão desonrado estava sendo quebrando o código masculino de regras do bar. Levei um soco no rosto de leve e aí finalmente me tiraram do bar. No outro dia pedi desculpas ao pessoal até porque a torcida do São Paulo é a melhor de se lidar e são bastante gente final, mais que a do Santos que é mais arrogante.

A partir dali aprendi a lição e hoje sou o mais respeitador de todos. Já vi muito bunda mole apanhando achando que ia se criar. Essas tensões no bar que já passei, gestos de virilidade, gozações, piadas, brigas prestes a acontecer com amigos ou com outros, as linhas que não se pode cruzar me ajudam a ser um cara mais consciente dos limites que temos. Enquanto playboys cariocas covardes patéticos agridem nerds betas que não fizeram nada na balada ou traficantes atiram em pessoas pobres em butecos, em São Paulo nos bairros com bares de pobre o respeito e a tensão por se manter dentro da linha é muito maior. Uma vez um nerd veio com um grupo de mulheres branquelas e uns bêbados do bar começaram a dar em cima delas. O nerd se irritou e começou a ficar putinho. Resultado: 3 juntaram nele e um pegou pelo pescoço e jogou pra fora do bar, tomou um soco na rua. Um das braquelas hippies olharam pro meu jeito italiano mais bem vestido e pediu pra acudir achando que eu seria a voz da razão. Fui tentar falar pra galera pegar leve e levei um “Não se mete” violento na cara e já ia sobrando pra mim. Senti raiva pela situação pois vejo o quanto impotente um descendente de ialiano branco pode ser nos círculos de pobreza e como as pessoas se valem do poder de grupo. Lavei as mãos. E voltei para minha cerveja após a briga e fiquei a pensar em como sou fraco e podre.

ALEGRIA, FESTAS, PARCERIAS E AMIZADES

Após o jogo o som volta e o pessoal já está chapadíssimo. Quem veio pra ver só o jogo vaza e fica a galera mais frequentadora do bar. Risadas, merdas, papos ridículos, tapas nas costas, gozações.

Começamos a cantar músicas em inglês. Eu disse inglês? Bem. Imagine cantar aquela música safada famosa do Creedence “Have you ever see the rain” num bar de pobres bêbados? “Ráve u ave see merain, aaaiii donou, comin dau a reurái”. Eu? Eu acompanho claro. Qual tal aquela “iaarrnuuoouuu, iaristilveee iarrnuooouuuu selemaboque sou lets da shilve” (pra quem não identificou é a música we are the world).

Mais dancinhas e eu não paro de me balançar com meu jeito de pobretão de vida ruim. Já estou bêbado, não ligo pra nada, minha cabeça mexe direto, canto sozinho ás vezes e nas músicas que gosto eu canto alto e ás vezes puxo o refrão. Abraço amigos, estranhos cantando junto. Alguns fazem a segunda voz. “Podemos ser um coral diz um”. “Óbvio que sim respondo eu” animadamente. Pego minha cerveja e carrego o copo do novo amigo que fiz hoje. É, agora camarada forever. Digo, “forevis”

Piadas de fazer corar rolam e também muita piadas gays. Tipo “ih que veadagem é esse aí, enfiando o guarda chuva no bolso”, “hmmmm olha a facaaa”, “ih olha aí o Richarlyson 2”, “uiuiui bixona”. Risadas e mais risadas.

VIDA MINHA DE BAR, OH VIDA MINHA DE BAR

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Ás vezes me pego no balcão sozinho pensando na vida do alto da minha bebunzice. É foda. O que fazer da vida? Tem mais gente infeliz lá também mais quietas, bebendo copos de cachaça pura por não terem grana pras cervejas caríssimas de hoje em dia graças ao governo do PT (a qual estes mesmos pobres votam) e a ganância, monopólio e exploração absurda contra empregados pobretões da AMBEV. É tudo uma corrente. O pobretão do bar tomando cachaça pesada e destruidora de rins porque não tem grana e pensando no amor perdido pois não tem grana pra sustentar uma vadia porque o Brasil é uma merda e ao mesmo tempo a criação dele foi um lixo e ele se afogou em cachaças porque sabia que ia ser um nada pra sempre e assim por diante. No bar de pobre todos se encontram e cada individual é uma história dentro de um sistema enorme.

O FIM DO DIA

Eu fico mega mal ao fim do dia, bebi demais, não aguento. Saímos cambaleando pela rua, dando socos nas costas, ou loucos pra pegar puta, ou carregando alguém ou vou sozinho mesmo. Ás vezes não aguento e paro no puteiro onde normalmente gasto mais que quero.

Chego em casa, meu quarto começa a feder a litros de alcool. Durmo pelado ou com todas as roupas, babo no travesseiro. Acordo, mijo, tomo água, passo mal, tomo aspirina, volto pra cama, acordo, como algo, volto pra cama e finalmente durmo até meio dia. Merda, já é domingo. Agora tem playboys que comeram gostosas, tem playboys felizes porque segunda seus empregos fáceis o deixam felizes e eu começo um sofrimento terrível de domingo devido a ressada de merda aliado ao fato que amanhã, ah amanhã, VOU TER QUE AGUENTAR este INFERNAL emprego filha de UMA PUTA que tenho, colegas otários, CHEFES, CHEFES, CHEFES MALDITOS que eu odeio com todas as forças, horários fixos, falta de liberdade, transporte pau no cu, porra, porra de vida.

E assim tal qual a felicidade veio no bar no sábado, ela se vai. É assim, 1,5 dia de alegria (sexta à noite e sábado) e 5,5 de tristeza, ódio, agonia, depressão, desespero, falta de esperança.

E a saudade do bar bate. Ali sou feliz. Ali sempre serei. Ali eu sou eu mesmo. É ali que esqueço que sou apenas um escravo invisível odiado perdedor de uma sociedade feita para playboys ricos e mulheres serem felizes, e betas viverem pra sempre solteiros sofrendo com pobreza ou sustentando vacas rodadas pro resto da vida.

Um cerveja por favor.




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