Aqui e ali, tudo ao mesmo tempo

Hoje, por exemplo, estou digitando com três dedos machucados - dois que cortei ao preparar uma panela de carne moída, e um outro que queimei fritando um milhão (ou quase) de pastéis.

Me pego matutando, entre uma tarefa e outra, sobre os caminhos de nossas vidas, da minha vida. Meus dois filhos são adolescentes - um prestes a entrar na faculdade e a minha mocinha, iniciando a sua jornada no ensino médio. Já minha mãe está convalescendo de um grave problema causado pela diabetes. O meu marido fica no meio de tudo, disputando silenciosamente a minha presença.

Eu me sinto o verdadeiro recheio do bolo, a manteiga que une cada pedaço do pão, a cola entre o salto e a sola do sapato. Estou aqui e ali, ao mesmo tempo. Ajudando um, apoiando o outro, levando a turma prá cá e prá lá, sem descanso.

Sei (tenho certeza, no fundo da minha alma) que sou jornalista, mas exercer a atividade está sendo um desafio. Todos os dias, separo as colunas da Folha de São Paulo que não vou conseguir ler no dia. coloco ao lado da minha cama as revista semanais, livros, artigos e tudo mais que preciso ler. Guardo tudo e retomo a leitura quando sobra tempo. Me pego escrevendo, lendo e estudando um pouquinho, nos horários mais ingratos - muito cedo, muito tarde, no banheiro, esperando o sinal abrir. Não desisto, insisto.

Não sou de ferro. Às vezes, a carga fica ainda mais pesada e eu, surpreendentemente, me deparo com um tremendo mau humor. Não sou disso, sempre procuro o lado bom de tudo e o meu sorriso vem fácil. Mas a vida, às vezes, fica trabalhosa e eu não consigo administrar o fluxo (tsunami ou furacão? talvez um tornado, sei lá....)

Eu sei que tudo passa. Daqui a pouquinho, vou estar velhinha, sentadinha no sofá, lendo jornal e escutando rádio, lembrando desse tempo, da correria e rindo de mim mesma por tanta afobação.

Mas hoje, exatamente hoje, me sinto aquela mãe da década de sessenta, ou será da Idade Média ou apenas uma mãe que, além de cuidar de tudo, tem que atualizar o livro caixa, abrir o coração e apenas amar a minha turma. Eu sei apenas que amanhã tem mais, muito mais.

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