O gringo (ou: a burrice de emprestar seu nome)
Dinheiro e Negócios

O gringo (ou: a burrice de emprestar seu nome)


A propósito do excelente post do amigo Conhecimento Financeiro, cujo título de nome auto-explicativo é "Jamais deixem usarem seu nome!", hoje vou compartilhar com vocês a enorme cagada que minha mãe fez ao emprestar o nome dela, na expectativa de que este post sirva de exemplo aos sonsos e desavisados desse meu Brasil.
 
Alguns anos depois de separar do meu pai, minha mãe começou a se relacionar e eventualmente casou com um gringo, um cara bem gringo mesmo, daqueles que só de bater o olho você já sabe que veio de algum país desenvolvido do hemisfério norte ou Austrália.

Esse tipo de gringo
Tava tudo muito bem, até que minha mãe me contou que o marido gringo dela estava querendo abrir uma empresa, mas não estava conseguindo pois a Junta Comercial estava colocando uma série de empecilhos, todos envolvendo o fato de ele ser estrangeiro.

Como eu não botava fé nenhuma na capacidade do gringo de gerenciar uma empresa (o cara mal falava português, que dirá lidar com as peculiaridades do empreendedorismo tupiniquim), orientei minha mãe a não se envolver de forma alguma com essa empresa, pois o marido dela não fazia a menor ideia do que estava fazendo e a situação toda só poderia dar em merda.

No fim das contas o gringo conseguiu abrir a empresa, e como era de se esperar em menos de 1 ano já teve que fechar as portas, culpando o Brasil e o resto do universo pelo seu insucesso empresarial, como todo mundo que quebra adora fazer.

Minha cara de surpresa quando soube que o gringo fechou a empresa
Passado alguns anos depois disso, o gringo veio a falecer.

A morte dele também não me surpreendeu muito, já que apesar de estar na casa dos 50 anos, ele tinha todo tipo de problema de coração, má circulação do sangue, urticária e um monte de outras coisas. Some isso ao fato de que ele praticamente não bebia nada que não fosse alcoólico e só comia porcaria, então talvez ele tenha vivido até demais pro estilo de vida que ele levava.

Enquanto minha mãe chorava a morte do gringo, eu, que nunca morri de amores por ele, comecei a pesquisar sobre o patrimônio que ele tinha no exterior, além de quais eram os direitos sucessórios da minha mãe de acordo com a legislação da gringolândia, mas isso é assunto para um próximo post.

Fazendo essa pesquisa, eu descobri ainda que, ignorando minha orientação, minha mãe tinha emprestado o nome dela para que o gringo conseguisse abrir a empresa aqui no Brasil.

Mais do que isso: ela estava registrada como sócia-administradora da empresa, enquanto o gringo, que era quem realmente tocava o empreendimento, figurava como um mero sócio-cotista, sem poderes de administração.

Tentei puxar certidão negativa em nome da empresa na Prefeitura Municipal e não consegui. Sinônimo de dívida. Tentei puxar certidão da Fazenda Estadual e não consegui, também sinônimo de dívida. Tentei puxar certidão da RFB/PGFN e também não consegui. A empresa estava devendo imposto para metade do universo, e tal cobrança poderia ser facilmente redirecionada para a minha mãe, já que ela era a "sócia-administradora". Puta que pariu.

Você fala pra pessoa não emprestar o nome, ela vai e empresta
Viajei para a cidade da minha mãe e descobri o tamanho do rombo: aproximadamente R$ 9 mil. Isso era menos do que a previsão catastrófica que eu tinha em mente, mas ainda assim algo totalmente fora da nossa capacidade de pagamento naquela época.

Como o único patrimônio relevante do gringo no Brasil era uma moto, vendi a moto em questão para um outro gringo, sem transferência no DETRAN nem nada, deixando o gringo-comprador totalmente ciente de que ele estava comprando aquela moto da maneira mais irregular possível.

Peguei o dinheiro da venda e quitei a pendenga tributária. Consegui as certidões negativas e dei baixa na empresa. Depois de algumas semanas de muito stress, a história teve um final feliz.

Mas o final nem sempre será feliz, meus amigos, então não empreste seu nome para ser sócio de empresa, fiador, avalista, enfim, para nada!

Conheço gente que topou ser fiador da esposa em contrato de locação de loja de Shopping, e depois veio o divórcio junto com uma ação cobrando dele mais de R$ 100 mil de aluguel e outros encargos atrasados que a agora ex-mulher deixou de pagar.

Aliás, se eu fosse contar pra vocês todos os casos que conheço de gente que se ferrou lindamente por topar ser fiador, acho que esse post quadruplicaria de tamanho. 

"Mas Madruga, eu tenho absoluta convicção de que a pessoa nunca vai deixar dívida pra mim". Pois é, o problema é que todo mundo que acaba tomando no meio do cu também teve essa convicção um dia, então se você não quiser ser presenteado com a desagradável obrigação de quitar a dívida alheia, é melhor não se sujeitar a isso em hipótese alguma.

Pesquisa recente do SPC mostra que 1 em cada 10 negativados ficou inadimplente porque "emprestou" o nome para amigos e parentes em compras/empréstimos (link), e isso demonstra que a prática de emprestar o nome é mais comum do que se imagina.

Ao entrevistar essas pessoas que foram negativadas por terem emprestado o nome, a pesquisa constatou ainda que em quase 70% dos casos o relacionamento entre o "emprestador" do nome e o caloteiro ficou abalado por conta do ocorrido.

Então não empreste o nome, não só pelo risco financeiro ao qual você se sujeita, mas também como forma de preservar relacionamento. 

Aquele abraço!



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