Experiências esdrúxulas com caridade
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Experiências esdrúxulas com caridade


A propósito do assunto iniciado pelo amigo Corey, gostaria de compartilhar com vocês algumas experiências esdrúxulas que tive com caridade.

Corey em uma de suas lojas. Visite seu blog clicando aqui.
Inicialmente gostaria de dizer que a ideia de ajudar em dinheiro não me agrada. O motivo é simples: não tenho carro, não tenho teto, e se ficar comigo é porque gosta, não tenho imóvel, não tenho previdência privada, não contribuo pro INSS, não tenho absolutamente nada conquistado que possa me garantir um futuro tranquilo.

Como vou dar dinheiro para os outros quando eu sinto que tranquilidade financeira ainda não é uma realidade para mim? Como vou pegar o dinheiro do meu trabalho e dar para os outros sem nem saber se em 20 anos estarei bem de vida ou vivendo de favor?

Se um dia eu sentir que meu futuro está garantido posso começar a contribuir em dinheiro, mas no momento preciso pensar em mim antes de pensar no próximo.

Por ora, doo sangue 3 vezes ao ano, estou cadastrado como doador de medula óssea, doo grãos de arroz para esfomeados por meio desse programa sensacional da ONU e visito asilos com pouca regularidade, mas visito. Existem várias formas de contribuir para um mundo melhor sem tirar dinheiro do bolso, vá ler o post do Corey pois ele tratou bem desse assunto.

Em hipótese alguma eu daria dinheiro para gente aleatória na rua, pois seu dinheiro pode acabar sustentando vícios, bancando pilantras e fazendo com que pessoas prefiram ficar na rua do que procurar abrigos públicos (por incrível que pareça, tem muita gente na rua porque quer estar lá). 

Bom, o assunto agora é pilantragem. Vou contar uns casos que quase me convenceram a ajudar, mas felizmente não ajudei. Vamos lá:

1) A mãe de família

Certa noite fui a um supermercado e na frente dele fui abordado por uma mulher que pedia leite ninho ou neston para os filhos. Ela começou a chorar enquanto me pedia e eu fui checar o preço desses produtos para ver se poderia ajudá-la.

Assim que vi que uma lata de ninho ou neston custa mais de R$ 10, minha boa-vontade cristã desapareceu e desisti de ajudar rs.

R$ 12 a lata? Porra, Nestlé. 
Uns meses depois disso, recebi o jornal da associação de moradores do meu bairro e vi que essa mulher e o marido dela foram presos. O esquema era o seguinte: ela ficava mendigando leite ninho e neston na frente dos supermercados, enquanto o marido - um técnico em enfermagem - vendia as latas para familiares de pacientes dentro do hospital infantil no centro da cidade.

2) O soropositivo

Um cara me abordou num ponto de ônibus alegando ser homossexual, soropositivo e com hepatite. Vinha do interior pois foi abandonado pela família e precisava de dinheiro para se tratar. 

"Caralho, quanta desgraça", foi o que pensei na hora. 
Ele tirou um calhamaço de papel velho do bolso e disse "se quiser pode conferir, são laudos médicos mostrando que tudo que eu te disse é verdade". 

"Quero conferir sim, desembola essa papelada aí para eu dar uma olhada", respondi.

Nessa hora ele olhou pra mim com cara de susto e disse "deixa pra lá, tô com um pouco de pressa", e foi embora.

Devia ser receita de pudim anotado no papel. Filho da puta.

3) O bibliotecário

Em 2008 minha mãe formou em pedagogia e, não sei por qual motivo, todos os livros que ela comprou durante o curso estavam no meu apartamento. 

Como os 18 livros em questão não tinham utilidade alguma para mim, resolvi doá-los à biblioteca central da universidade onde eu estava fazendo minha graduação.

Em vez de simplesmente receber os livros e me agradecer, o servidor da biblioteca me entregou 18 formulários, falando que eu deveria preencher cada um deles colocando o nome do autor, título do livro, número da edição, local onde o livro foi fabricado, nome da editora, ano da publicação, número do ISBN, número de páginas, formato, tipo de capa e palavras chaves sobre o tema do livro.

É típico de funça mesmo: eu só queria doar os livros e ir embora, mas o corno queria que eu sentasse ali e passasse a tarde toda fazendo o trabalho dele. 

Desisti de doá-los à universidade, peguei os livros e vendi num sebo que tinha ali perto (não lembro quanto embolsei).

Depois disso, formalizei uma reclamação na ouvidoria da universidade e, um tempo depois, descobri que por conta da minha reclamação o servidor foi punido com a pesadíssima pena de... advertência (uau).

A provável reação do servidor quando viu que foi penalizado com "advertência"

4) A menina com leucemia

Na universidade eu puxei algumas matérias do curso de história pois gostava muito do assunto, mesmo não tendo relação alguma com minha graduação.

Na aula de história do Brasil colonial havia uma garota diagnosticada com leucemia.

Ela tinha cabelo curtíssimo, usava uma toca na cabeça e com alguma frequência passava mal no meio da aula, causando uma comoção generalizada.

Como era de se esperar, a menina contava com a solidariedade generalizada do departamento, recebendo carona toda noite dos estudantes, com professores fazendo vaquinha para dar um apoio financeiro para ela que tinha origem humilde, enfim, todo o apoio necessário para transformar aquele momento que ela estava vivendo em algo menos tortuoso. 

Eis que, passado não lembro quanto tempo, uma prima da menina com leucemia apareceu no prédio dizendo que ela não tinha leucemia coisa nenhuma, que estava fingindo, que a vida toda ela sempre fingiu doença para chamar a atenção da família.

Fingindo leucemia. Tem filho da puta para todo nesse mundo. 
Os professores que deram ajuda financeira registraram ocorrência, a menina parou de ir à universidade e ficou por isso mesmo.

Depois disso parei de frequentar as aulas daquele curso, mas sei que uns meses depois ela voltou a ir para a aula, sofria um bullying violento enquanto fingia que nada tinha acontecido. 

Em 2014 eu vi essa menina grávida na rua. Não sei se fico com mais pena do cara que a engravidou ou da criança que nessa altura do campeonato já nasceu e em breve descobrirá a mãe que tem.

Escrevi este post não como forma de desestimular as pessoas a fazer caridade, muito pelo contrário, milhares de pessoas de bem precisam ser ajudadas. Escrevi só a título de descontração mesmo, e para nós prestarmos mais atenção em quem pretendemos ajudar.

Abraço!



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