As pequenas alegrias e travessuras de um pobre trabalhador na empresa privada
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As pequenas alegrias e travessuras de um pobre trabalhador na empresa privada


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Trabalhar em empresa privada brasileira é uma das piores experiências que você pode ter na sua vida. Qualquer um pode confirmar. A maioria dos trabalhadores de escritório de empresas privadas como eu (nem vou comentar dos que trabalham em empresa privada não de escritório porque é ainda pior) sabem como é uma dor duríssima fazer parte da ralé do país.

Salários ruins, pressão enorme, assédio moral, poder absurdo dos chefes sobre sua vida, desrespeito às leis trabalhistas, horários desregulados, risco de demissão, as férias precisam ser negociadas com chefe de forma humilhante e eles lhe obrigam ás vezes a tirar 10 dias só e guardar os outros 15 dias, muitos feriados não emendam, ás vezes você tira férias mas ainda sim trabalha (você recebe o salário e abono porque as férias venceram por lei mas só tira efetivamente em outro momento porque o chefinho “precisa de você agora”), as promoções são uma putaria e uma vergonha sem sentido, é preciso ser amiguinho dos alfas colegas ou chefes pois se não ele lhe demite, trata mal, não dá aumento ou cancela promoção, enfim, as empresas capitalistas brasileiras privadas são uma bando de filhas de uma puta sem ética, sem respeito comandados por psicopatas.

Uma das formas que eu encontrei pra aguentar o dia a dia e ritmo imundo de empresa privada e tolerar o tormento é me contentar com pequenas alegrias e travessuras diárias que dão um pouco de alento e fazem o dia passar mais rápido ou que me fazem esquecer um pouco a tristeza de estar ali. Vou listar essas pequenas coisas toscas mas que me animam um pouco:

- Gosto quando o elevador fica cheio e aí eu procuro ficar atrás de alguma mulher. Aí eu fico lá trás no elevador no espelho e ela bem na minha frente quase encostando e aí observo ela de perto, a pele das costas, o rostinho, tento dar uma fungada no cheirinho, observo se ela tem buço, pelos no rosto, cabelo, qualidade da pele, quando sou maior que ela olho os peitinhos. Ai ai, como é ruim não ter uma mulher linda pra tocar.

- Adoro ficar olhando fixamente para as gostosas bem vestidinhas nas saídas para almoço ou na rua. Gosto de olhar as pernas, o rosto lindo, coxas, peitinhos. Adoro deixar envergonhadas. Sim, sai com roupa sexy e não quer ser olhada? Mas porque usa algo sexy, não é pra chamar atenção de alfas? Foda-se, o beta aqui vai lhe deixar bem desconfortável. É engraçado como elas me ignoram no dia a dia de forma bem dura mas se borram de medo de um beta feio jovem ficar olhando.

- Quando dá a hora de sair a galera mais ralé tipo eu fica fazendo sinais um pro outro de “vazar” aí todo mundo começa a fazer, aí todo mundo fica esperando um corajoso pra se levantar (temos medo dos chefes e coordenadores pois eles não gostam de quem sai no horário e fazem caras e bocas), aí fica um mandando mensagem pro outro do tipo “levanta essa bunda corno”, “vamo porra, hoje é sua vez cagão”, “caralho anda bicho, óia o trânsitoooo”. Aí alguém levanta e todo mundo da ralé levanta ao mesmo tempo e começa a arrumar as coisas silenciosamente, com muito medo e saímos em grupo em passos pequenos silenciosos aí quando saímos da sala dá aquele alívio e começamos a rir e falar “ufaaaa”, “aeee escapamos!!”, todos alegres e felizes.

1386053717483Minha reação quando consigo sair na hora escapando de chefes

- Quando os chefes ou coordenadores não estão na sala (em reunião, foram embora cedo, foram pegar algo pra comer, banheiro, outro setor), aí é mais atabalhoado porque todo mundo sai pegando as coisas rapidamente, ao mesmo tempo e quase que literalmente saímos correndo da sala, apertamos o elevador várias vezes e ficamos “vai vai vai vai, vai caralho, chega porra”, “vamo porra, ai mano tô ouvindo passos”, “porra meu fudeu, caralho todos elevadores cornos parados”, aí eu falo “ai que dor de barriga de nervoso”, aí o elevador chega e pulamos dentro e apertamos rápido o botão de fechar “fecha, fecha, fecha, fecha, fecha”, aí fecha e comemoramos muito, ai ai que vida..

- Ás vezes tem jogo da champions league ou jogo do Brasil aí fica um de nós olhando no globo.com e cada um é fã de algum time da europa, Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Chelsea, Milan são os principais aí quando sai gol um faz sinal pro outro com o placar ou fala baixinho pro outro “gol do Cristiano Ronaldo”, aí fazemos sinais uns pros outros de comemoração e tal discretamente pros coordenadores não verem..

- Muitas vezes tenho caganeira e vou discretamente no banheiro mais isolado da empresa e individual e lá solto barros maravilhosos demorados principalmente depois do almoço aproveitando que chefinhos demoram a voltar do almoço (são uns vagabundos). Fico pensando na vida e descarregando barros pretos legais lá, finalmente ficando um pouco sozinho (é um SACO ficar o TEMPO TODO rodeado de gente).

- Ás vezes fazemos bolão da Mega Sena quando acumula e ficam todos animados, todos empolgados, palpites de números, começamos a falar dos nossos sonhos, primeiros atos, da divisão de valores, do responsável, que se não fizer o jogo vai morrer, aí começam musiquinhas e dancinhas “uh vamo ganhar, uh uh vamo ganhar” aí um palhaço faz dança na cadeira, até os workaholics otários participam (mas não brincam porque são babacas) e ficam todos camaradas e sonhadores por pelo menos alguns momentos.

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- Quando estou em banheiro conjunto, eu escovo os dentes com os colegas e ás vezes fica uma galera cagando atrás nos vasos sanitários. Aí tá todo mundo em silêncio e tal e de repente dá pra ouvir os barulhos de peidos, ou cocô caindo no vaso, peidorréias prensadas e eu começo a me segurar com todas as forças pra não rir ficando vermelho, mas tem gente que solta explosões fortes com o cu aí eu não me aguento e solto risada prensada e meu colega não aguenta e se apoia na pia e começa a rir com a boca cheia de pasta de dente, aí eu não aguento e saio do banheiro correndo e solto gargalhadas no corredor. Ainda tem vezes que estou cagando no banheiro conjunto e tem gente nos lados cagando também, aí tem gente que está com diarréia e solta fortes peidos líquidos e acaba falando “ai, uh, uff”, e eu coloco as duas mãos na boca pra não escapar a risada, puta merda.

- Ás vezes consigo escapar e não almoçar com esse bando de pau no cu, aí como mais rápido e chego na sala e aproveito que não tem ninguém e tiro o sapato (odeio usar meia social, é terrível) e dá aquela sensação gostosa de alívio, estico as pernas e tento tirar uma soneca rápida. Normalmente não consigo mas fico pensando na vida e me sentindo livre por alguns minutinhos.

- Ás vezes meu chefe vem e me pede algo estúpido, faz perguntas idiotas ou age com arrogância demais pra cima de mim e assim que ele sai da minha estação de trabalho eu faço uma careta escrota atrás dele, aí ele vira pra trás e eu volto ao normal. Ninguém vê e eu rio sozinho.

- Não tem coisa que eu mais gosto quando tem reunião com diretor e ele chama a equipe inteira e os gerentinhos ficam na linha de frente (e coordenadores) e o diretor começa a descascar, xingar, reclamar, falar alta na cara dos gerentinhos (que com a gente da equipe são pau no cus e machões) e eles ficam quietinhos, humilhados, como cachorrinhos com medinho de trovão se escondendo embaixo da mesa e mijando em tudo que é lugar. Eu adoro sentar de frente pros gerentes ou perto deles e gosto de observar a cara deles, me alimento da tensão e humilhação deles. Depois que termina a reunião é como se eu me sentisse renovado, ando feliz pelos corredores, arrisco até sorrisos que nunca dou, dou tapinha nas costas na galera de mesmo cargo (ralé como eu chamo), até fico folgadinho com os coordenadores enviando olhares irônicos quando eles se mostram preocupados conversando com a equipe tristinhos. É um gosto muito bom e confuso de ver seus opressores sendo oprimidos.

- Ás vezes os retardados inventam de ir pro shopping em grupo e é foda recusar aí eu depois de comer invento que vou comprar algo em outro lugar e vou pro lugar de brinquedos e fliperamas e começo a jogar street fighter, mortal kombat, só umas jogadinhas e começo a pensar em como era bom ser criança e eu não sabia, a liberdade, alegria dos games do passado, sem ser mandado, sem ter horários, sem ter cobranças, sem ser considerado lixo pelo sexo oposto, sem ter libido escrota. Me dá forças pra saber que o caminho é parar de trabalhar. Ás vezes tem até uns trombadinhas sem grana que ficam olhando você jogar e eu dou umas fichas pra jogar comigo e obviamente ganho dele de forma violenta.

- Quando eu preciso imprimir muitos arquivos ou papéis viram rascunhos eu pego o lixo e coloco a uma boa distância da minha estação de trabalho e quando não tem coordenador perto eu começo a brincar de basquete tentando acertar o máximo, aí brinco quando acerto fazendo gestos botando a mão pra cima ou narro um jogo na minha cabeça sendo o Michael Jordan.

CONCLUINDO

Pequenas coisas idiotas, pequenas atitudes, pensamentos, situações que fazem o dia a dia no inferno das empresas privadas brasileiras ser tolerável. Dia a dia eu acordo pra ir pro mesmo lugar, fazer merdas que eu não gosto, ser mandado por outras pessoas que eu não gosto, perdendo cerca de 60% do meu dia e portanto da vida com algo que não me faz bem, sofrendo pressão, sofrendo cobranças, sofrendo medo de ser demitido à todo momento.

Só assim mesmo pra aguentar. Na humildade, na solidão diária de um jovem pobre feio a gente vai aportando e sobrevivendo buscando consolo nas pequenas coisas simples da vida.

Conheça todos meus sofrimentos na iniciativa privada:

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Conheça o futuro das empresas privadas sem homens pobres betas

Forte abraço!

PS: ATUALIZAÇÃO PATRIMÔNIO SAI NO DOMINGO (02/02) E O RANKING DE JANEIRO/2014, O MAIOR DA HISTÓRIA SAI QUARTA (05/02)




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