Dinheiro e Negócios
Direito, engenharia e medicina nos dias de hoje
Estava conversando com uma senhora que está em seus 60 anos de idade e ela me disse que, em sua juventude, sucesso profissional era ser bancário.
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Isso mesmo, bancário. |
Segundo ela, há algumas décadas atrás não havia nada mais descolado do que trabalhar em banco, tanto é que, quando ela largou o Banco do Brasil para ser juíza de direito, o pai dela ficou tão enraivecido que cortou contato com ela.
Pra vocês verem como o tempo muda as coisas: hoje a classe bancária não tem 1/10 da relevância que tinha antigamente (ferrados pela tecnologia) e o cargo de juiz de direito, que antes não era lá tão expressivo, hoje é cobiçado por milhares de pessoas que se digladiam em concursos públicos.
Eu não vivi nessa época nem sei se ela exagerou no que me disse, mas tem uma lição aí: as profissões do momento vem e vão ao longo dos anos.
Uma coisa que eu vivi (e vocês provavelmente também viveram) é que, até não muito tempo atrás, quem quisesse encher a família de orgulho e adquirir um status de "bem de vida" poderia recorrer a três cursos: direito, engenharia e medicina.
Essa "tríade do sucesso" começou a ruir quando o MEC decidiu que qualquer muquifo fedorento poderia se tornar uma instituição de ensino superior, o que culminou no surgimento de milhares de faculdades de credibilidade extremamente duvidosa.
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Pode transformar esse cativeiro em instituição de ensino superior, o MEC aprova. |
Não é novidade para ninguém que o primeiro curso a se dar mal com essa história foi o de direito. Sem a necessidade de montar laboratórios e manter equipamentos complexos, os cursos de direito se proliferaram como o Aedes aegypti, vendendo "o sonho de ser dotô" para quem quer que se dispusesse a pagar mensalidade.
A consequência disso é patética: o Brasil passou a ter mais cursos de direito do que todos os outros países do mundo juntos. Em 2010 eram 1.240 cursos jurídicos no Brasil, enquanto o resto do planeta somava 1.100 cursos (fonte).
Como o direito se tornou a prostituta dos cursos superiores, o mercado jurídico implodiu. Conheço bastante gente formada em direito e sei que o mercado (ao menos por aqui) está pagando aproximadamente R$ 1.200/mês para advogados em início de carreira, além de ter uma galera por aí fazendo audiências avulsas por R$ 30 e coisas do gênero.
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Foto oficial dos formandos da turma 2016/1 da Faculdade de Direito do Noroeste do Amapá |
Quem ganha com isso é o Estado, que deve estar arrecadando fortunas com taxas de inscrição de concursos públicos; os cursinhos para concurso e a OAB, que enquanto finge indignação com a proliferação dos cursos de direito, embolsa uma grana preta com o exame de ordem e com a anuidade paga pelos 5 advogados por metro quadrado que existem no país.
A engenharia, ao que tudo indica, está caminhando para o mesmo destino que o direito.
Nos últimos 5 anos, todas as faculdades aqui das redondezas que têm fama de colocar diploma na mão de analfabetos funcionais passaram a oferecer seus respectivos cursos de engenharia.
Conheço alguns engenheiros formados em federal, minha namorada inclusive, e eles contam que, quando eram estudantes, as empresas iam até a universidade para tentar contratar os alunos do décimo período... era um verdadeiro "vem trabalhar pra mim, pelo amor de Deus!".
O que antes era emprego garantido, hoje não existe mais. Muita gente da engenharia está terminando o curso com o cu na mão de entrar na estatística do desemprego, e algumas pessoas que conheço estão de fato desempregadas, enquanto outras estão trabalhando por R$ 2 mil/mês, algo inimaginável há alguns anos atrás, e absolutamente incompatível com a importância dessa função.
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Um exército de engenheiros mal formados, fudidos e mal pagos está em busca de seu lugar ao sol no mercado de trabalho. Vai dar merda. |
Sei que o plano da Dilma de destruir a economia nacional influencia bastante na diminuição das oportunidades para engenheiros, mas o problema parece ir além disso. Semana passada saiu uma matéria na Folha de São Paulo cujo título é "Engenheiros ficam sem emprego, mudam de área e vão até para o Uber", que traz estatísticas perturbadoras ao demonstrar o crescimento vertiginoso das vagas em curso de engenharia.
Felizmente para os engenheiros, existem ótimas oportunidades fora do país. Se eu pudesse voltar no tempo, possivelmente cursaria engenharia e tentaria sair do país o mais rápido possível.
Da "tríade do sucesso" mencionada no começo do post só restou a medicina.
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"Como assim só ganhei R$ 21 mil neste mês?" |
Enquanto o direito afundou e a engenharia está afundando, o curso de medicina parece manter seu status de porto seguro em termos de estabilidade financeira.
Isso ocorre pois a estrutura necessária para manter um curso de medicina está fora do alcance da grande maioria das faculdades que surgiram em cada esquina do nosso Brasil varonil.
Além do mais, o curso é caro e não é pra qualquer um: passar nas universidades públicas exige uma capacidade que poucos tem, e a mensalidade em uma faculdade particular de medicina custa em média R$ 4.500. Amigo, isso é muito dinheiro, papai tem que ser muito bem de vida para bancar um troço desses por mais de meia década.
Esses dois fatores elitizam o curso e preservam a reserva de mercado, fazendo com que somente 23.441 vagas para medicina sejam disponibilizadas ao ano.
Apesar disso, aqui na minha cidade 3 faculdades não muito respeitadas passaram a oferecer curso de medicina, o que vai colocar, anualmente, mais 240 médicos de competência questionável no mercado de trabalho.
Alguns conhecidos meus que são completos retardados mentais estão terminando medicina nessas faculdades, a demonstrar que o processo seletivo para entrar nelas consiste em uma pergunta: "Seu pai consegue pagar?".
Para o desespero dos que se beneficiam da reserva de mercado natural que o caríssimo curso de medicina parece ter, no meio do ano passado o Governo anunciou a intenção de criar mais de 11 mil vagas para tal curso até 2017.
Aumentar em quase 50% as vagas de graduação em medicina parece ser uma meta ambiciosa, mas não é nenhuma missão impossível se considerarmos que o MEC é especialista em autorizar o funcionamento de cursos de graduação vagabundos (direito e engenharia estão se ferrando por conta disso já há alguns anos).
Ainda é tempo de cursar medicina, mas a sensação que tenho é que o futuro da profissão parece não ser tão brilhante quanto seu presente.
Abraço!
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