Ah, carros. Uma das coisas mais fascinantes do mundo são os carros. Seus designs, sua velocidade, seus painéis coloridos, seu som, seu barulho de motor, o conforto da direção. Nada mais fantástico que ter um carro.
E nada mais humilhante do que não ter um. Não ter carro no mundo de hoje em que até peões favelados tem o seu é um grande crime ainda mais para um cara como eu que tem seu emprego normalmente em São Paulo.
O preconceito e a humilhação já começam no meu trabalho. É complicado quando perguntam pra mim qual é meu carro nos papos de “qual carro é melhor” ou quando tem algum maldito e insuportável happy hour paulista (que consiste em comer que nem um porco fedendo no terno de dia inteiro com a cara toda suja de bactérias de poluição tentando impressionar as mulheres barrigudinhas paulistas). Eu simplesmente digo que não tenho pois estou pesquisando algo ou que minha tia morreu e estou ajudando antes de comprar algo. É, pesado mentir assim mas funciona.
Mulheres são ainda mais cruéis e pressionam muito para saber o carro. Em São Paulo o fato de um homem não ter carro trabalhando em uma empresa média/grande é um crime que destrói suas chances de conseguir um amor. Eu entendo que falarão que conseguem pegar várias sem ter carro mas quando se sai da fase de faculdade as coisas mudam drasticamente. Uma vez trabalhando em uma empresa grande as mulheres que você passa a conviver exigem que se tenham um carro. A fase da mulher universitária aceitar andar de ônibus e metrô acabou. De fato estes dois meios de transporte são horríveis em São Paulo então é entendível que elas queiram um homem com um carro legal, confortável para frequentar os caros restaurantes e bares paulistas. Não tenha carro e sofra com solidão feminina e não poder ir em nenhum lugar pois tudo é super longe.
Uma vez eu estava fazendo aqueles malditos cursos extras para ficar com o currículo mais bonitinho (caro e inútil pra burro). Eu estava lá e uma loira com um emprego fodão começou a me paquerar após eu olhar muitas vezes pra ela (eu olho muito para mulheres bonitas imaginando ela casando comigo). Ela era loira, linda, elegante, sempre de salto alto, cabelo cumprido, o sonho de 99% dos homens. Eu comecei a conversar com ela e logo as coisas bateram até bem demais que eu fiquei desconfiado (pois sou feio e fora de forma e minha empresa proíbe consultar médicos para consertar isso, malhar e também desinteressante devido os horários que não me permitem desenvolver vida pessoal). Em um momento com essa mulher maravilhosa que poderia ser minha linda esposa rica hoje, mencionou que amava carros e disse que tinha uma pickup mitsubishi nova. Eu me borrei nas calças. Então ela perguntou “qual o seu pobretão?”. Eu disse então que não tinha carro. Ela fez uma cara de decepção tão clara mesmo tentando disfarçar que nunca mais nossa interação foi a mesma. Fiquei bem mal. Uma vez ela saindo do curso me viu no ponto de ônibus de terno no meio do povão que ela chegou a parar o carro e ficar me olhando por 4 segundos, atônita de como um cara de 25 anos trabalhando em uma empresa como a minha naquela situação. Até hoje eu tenho pesadelos com isso.
Em São Paulo é ainda pior pois como tudo é longe eu não consigo fazer nada interessante. Quando quero ir nas baladinhas e bares preciso pegar ônibus e/ou metrô e quando chego já estou todo feio, desarrumado, cansado e triste. Você faz toda uma produção para chegar minimamente legal para poder encontrar uma moça e chego como uma mendigo. E elas chegando aos montes de Peugeot 307 lotado de mulheres lindas de salto alto. Como eu vou também levar as beldades para um motel sem carro? Triste.
Pior ainda é saber como todo mundo da sua idade como seus amigos já tem carro ou mesmo os mais novos que você conhece já tem um (aí dói mais). Eu tenho 3 irmãs e elas tem várias amigas, dezenas, centenas e todas elas ganharam carro ao completar 18 anos sem fazer porra nenhuma. Sim, todas ganharam pois seus pais são muito mais ricos. Isso me deixa muito triste pois dá aquela sensação de raiva pelo seu pai e mãe serem tão mais pobres que todos os outros pois como já falei várias vezes, sou um pobre inserido no ambiente de classe média alta e rica de São Paulo. Como pode aquelas meninas que vinham aqui em casa dormir fazer a festinha do pijamas, todas bebezonas, feias com dentes podres e magras anorexicas, faziam concursos de peidos, comiam todos meus chips, me incomodavam no meu computador hoje todas tem carros como Ka’s, peugeots 207/307, C4 Hatch, Vectra Hacth, etc. Porra meu.
Um homem da minha idade, tão jovem, solteiro e com 104.796 reais (conforme minha última atualização) não ter carro é complicado porém antes que me falem que estou reclamando sendo que posso comprar, eu sou obcecado pela idéia de ser milionário e carros só atrapalham a chegada no objetivo. Comprar um Chery QQ chinês ou um patético e não confiável Uno Mille por 22.000 reais mais a manutenção e IPVA destruíriram meu patrimônio e capacidade de aporte mensal (que é de 2600 reais para quem não sabe ainda). E isso eu não aceito.
A vida de um pobre não é fácil e o caminho para ser milionário como Eike Batista não é fácil.
No momento, só me resta torcer para que nenhum fedido sente do meu lado no banco do ônibus todo dia e torne meu dia ainda pior do que já é. Como é ruim ser pobre trabalhador.